Na transfiguração de Jesus, Moisés e Elias também apareceram “com glória”. (Lu 9:30, 31; Mt 17:3; Mr 9:4) Fora predito que Jeová suscitaria um profeta semelhante a Moisés, promessa esta que se cumpriu em Cristo. (De 18:15-19; At 3:19-23)
Foi predito também que Jeová enviaria Elias, o profeta, entre cujas obras achava-se a de fazer as pessoas de Israel se voltarem para o genuíno arrependimento. Enquanto Jesus estava na terra, João, o Batizador, fez uma obra desse tipo e serviu como precursor do Messias, cumprindo Malaquias 4:5, 6. (Mt 11:11-15; Lu 1:11-17) Mas, visto que a transfiguração ocorreu após a morte de João, o Batizador, o aparecimento de Elias nela indica que uma obra de restauração da adoração verdadeira e de vindicação do nome de Jeová estaria vinculada ao estabelecimento do Reino de Deus às mãos de Cristo.
Na transfiguração, Jesus, Moisés e Elias falaram a respeito da “partida [uma forma da palavra grega é·xo·dos], que [Cristo] estava destinado a cumprir em Jerusalém”. (Lu 9:31) Este é·xo·dos, êxodo ou partida, evidentemente envolvia tanto a morte de Cristo como sua subsequente ressurreição para a vida espiritual.
Alguns críticos se têm empenhado em classificar a transfiguração como simples sonho. No entanto, como é óbvio, Pedro, Tiago e João não teriam tido exactamente o mesmo sonho. O próprio Jesus chamou o ocorrido de “visão” (Mt 17:9), não de mera ilusão. Cristo estava realmente ali, embora Moisés e Elias, que estavam mortos, não estivessem literalmente presentes. Eles estavam representados na visão. A palavra grega usada para “visão”, em Mateus 17:9, é hó·ra·ma, também traduzida ‘o que se vê’. (At 7:31) Ela não denota irrealidade, como se o ocorrido fosse fruto da imaginação dos observadores. Estes tampouco eram insensíveis ao que ocorria, pois estavam completamente despertos quando foram testemunhas da transfiguração. Eles realmente viram e ouviram com seus olhos e ouvidos literais o que aconteceu naquele momento. — Lu 9:32.
À medida que Moisés e Elias se afastavam de Jesus, Pedro, “não se dando conta do que estava dizendo”, sugeriu que se armassem três tendas, uma para Jesus, outra para Moisés e outra para Elias. (Lu 9:33) Mas, enquanto o apóstolo falava, formou-se uma nuvem (Lu 9:34), o que evidentemente simbolizava (como no caso da tenda de reunião no ermo) a presença de Jeová no monte da transfiguração. (Êx 40:34-38) Da nuvem saiu a voz de Jeová, dizendo: “Este é meu Filho, aquele que foi escolhido. Escutai-o.” (Lu 9:35) Anos depois, com referência à transfiguração, Pedro identificou a voz celestial como a de “Deus, o Pai”. (2Pe 1:17, 18) Na transfiguração, é evidente que Moisés e Elias representavam a Lei e os Profetas, que apontavam para Cristo, e nele se cumpriram. Embora no passado Deus tivesse falado por meio dos profetas, ele indicava que daquele momento em diante passaria a fazê-lo mediante seu Filho. — Gál 3:24; He 1:1-3.
O apóstolo Pedro considerava a transfiguração uma maravilhosa confirmação da palavra profética e, por ter sido testemunha ocular da magnificência de Cristo, pôde inteirar seus leitores ‘do poder e da presença de nosso Senhor Jesus Cristo’. (2Pe 1:16, 19) O apóstolo vira o cumprimento da promessa de Cristo de que alguns de seus seguidores ‘não provariam a morte, até que primeiro vissem o reino de Deus já vindo em poder’. (Mr 9:1) O apóstolo João talvez também tenha aludido à transfiguração, em João 1:14.
Jesus disse aos três apóstolos: “A ninguém conteis esta visão, até que o Filho do homem seja levantado dentre os mortos.” (Mt 17:9) Naquela ocasião, eles realmente se refrearam de contar o que viram a quem quer que fosse, pelo visto até mesmo aos outros apóstolos. (Lu 9:36) Ao descerem do monte, os três apóstolos discutiram entre si o que Jesus queria dizer com “este levantamento dentre os mortos”. (Mr 9:10) Um ensino religioso judaico da época era que Elias tinha de aparecer antes da ressurreição dos mortos, que inauguraria o reinado do Messias. De modo que os apóstolos indagaram: “Por que dizem então os escribas que Elias tem de vir primeiro?” Jesus assegurou-lhes de que Elias já havia vindo, e eles perceberam que ele falava de João, o Batizador. — Mt 17:10-13.
A transfiguração, segundo parece, serviu para fortalecer a Cristo para seus sofrimentos e morte, ao passo que também confortou seus seguidores e robusteceu-lhes a fé. Mostrou que Jesus tinha a aprovação de Deus e foi uma antevisão de sua glória e poder régio no futuro. Pressagiava a presença de Cristo, quando sua autoridade régia seria completa.